Há 100 dias à frente da Prefeitura de Cuiabá, Abilio Brunini (PL) chegou ao comando da capital mato-grossense com o discurso de rompimento com o modelo de gestão anterior e a promessa de colocar ordem nas contas públicas. Porém, ele vem enfrentando uma série de desafios significativos e o desafio de transformar a cidade prometido na campanha eleitoral esbarra na realidade de um município endividado e estruturalmente fragilizado.
Logo no início da gestão, em janeiro de 2025, decretou estado de calamidade financeira, alegando ter herdado uma dívida superior a R$ 2,4 bilhões. A meta anunciada no discurso de posse foi clara: economizar R$ 100 milhões em 100 dias, o que ainda não aconteceu.
Para isso, reduziu o número de secretarias, suspendeu o Carnaval popular e criou uma comissão para revisar contratos. Segundo ele, a economia acumulada já ultrapassa R$ 92 milhões, e a meta deve ser atingida até o final desta semana.

A contenção de despesas, no entanto, não se restringiu à máquina pública. Em outra frente, Abílio articulou com a Câmara Municipal a revogação da taxa de lixo para a população em geral, mantendo a cobrança apenas para grandes geradores. A medida, aprovada com apoio da base aliada, só deve entrar em vigor em junho, quando o decreto de calamidade for encerrado.
O prefeito calcula um impacto de R$ 20 milhões ao ano aos cofres públicos, mas afirma que o município vai absorver o custo para atender ao Marco Nacional do Saneamento.
Na área da saúde, Abilio já enfrentou críticas do Conselho Regional de Medicina (CRM) após mudanças nas atribuições de Unidades Básicas e de Pronto Atendimento, contrariando normas do Ministério da Saúde.
A gestão afirma que regularizou pagamentos a empresas terceirizadas e servidores, e mantém planos de construir dois novos hospitais: um na região Sul da cidade e outro voltado à saúde da mulher. Ele também promete inaugurar, nos próximos dois meses, o Hospital Infantil, que teve as obras retomadas após acordo com a empresa responsável.
Ao iniciar a gestão, o prefeito Abilio tinha determinado que as UBS passassem a consultar os pacientes sem um agendamento prévio. A medida foi derrubada. Foto: Luiz Alves.
No Legislativo, o prefeito tem se mostrado atuante. Além de acompanhar pessoalmente boa parte das sessões, Abilio foi um dos principais articuladores da eleição da primeira Mesa Diretora da Câmara composta apenas por mulheres. A presidência ficou com a vereadora Paula Calil (PL), sua aliada. O protagonismo do prefeito, no entanto, levanta questionamentos sobre a separação entre os poderes.
A mobilidade urbana é outro ponto de frustração para parte dos eleitores. Durante a campanha, Abílio prometeu rever o contrato com a empresa CSMobi, responsável pelo estacionamento rotativo e obras de infraestrutura. Apesar de ter instalado uma comissão de negociação e iniciado uma CPI na Câmara, o contrato permanece em vigor.
“Já notificamos a empresa. Se houver nulidade, vamos romper. Mas estamos agindo com base na legalidade”, afirmou o prefeito.

Também não avançou o projeto de criação da Guarda Municipal Armada de Cuiabá, que depende de aval jurídico sobre o poder de polícia da corporação. O investimento na estrutura e a realização de concurso público foram postergados.
Sem marmita e sem festa
Em uma decisão controversa, Brunini pediu a suspensão da distribuição de marmitas para pessoas em situação de rua, propondo que as refeições fossem oferecidas em locais estruturados, como o Restaurante Popular, que estão inclusos em um projeto que estaria sendo desenvolvido pela prefeitura.

O objetivo, segundo o prefeito, é combater a permanência de pessoas nas ruas e promover políticas de assistência social mais eficazes. Essa medida gerou críticas de diversos setores, incluindo do padre Júlio Lancellotti, conhecido por seu trabalho com populações vulneráveis. Em suas redes sociais, Lancellotti expressou: “Triste compreensão da realidade do prefeito de Cuiabá”.
Além disso, o prefeito suspendeu as festividades de Carnaval e as celebrações dos 306 anos de Cuiabá, convocando a população para mutirões de limpeza na cidade. A programação que havia sido planejada posteriormente foi cancelada devido a uma tempestade que atingiu a capital no dia do aniversário.
Aniversário de Cuiabá por água abaixo
No aniversário de 306 anos de Cuiabá, celebrado em 8 de abril, a tradicional festa foi substituída por uma convocação popular: o prefeito Abilio Brunini pediu que os cuiabanos se unissem em um mutirão de limpeza pela cidade.

A proposta, segundo ele, era transformar a data em um ato de cuidado coletivo com a capital. Inicialmente, uma programação cultural chegou a ser anunciada posteriormente, incluindo shows e eventos comemorativos, mas acabou sendo cancelada em cima da hora devido a uma forte tempestade que atingiu a cidade no mesmo dia, provocando alagamentos e novos prejuízos em diversos bairros.
Investigações e CPIs na Câmara Municipal
A gestão de Abilio também tem sido acompanhada pela Câmara de Vereadores de Cuiabá. Atualmente, há cinco Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) em andamento, número máximo permitido simultaneamente pelo regimento interno da Casa. As CPIs em curso investigam possíveis irregularidades nos seguintes temas:
- Estacionamento Rotativo: Apurações sobre o contrato de concessão do estacionamento rotativo na capital.
- Fiação de Energia e Telefonia: Investiga a manutenção e regularização da fiação nos postes da cidade
- Habitação: Foca em possíveis irregularidades na regularização fundiária ocorrida no final de 2024.
- Gestão Financeira Municipal: Avalia suspeitas de desvios de recursos públicos e descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal até 2024.
- Débitos Previdenciários: Investiga débitos previdenciários descontados dos servidores e não repassados à Previdência Social pela gestão anterior.
Uma sexta CPI, referente ao Transporte Público, aguarda na fila para ser instaurada, respeitando o limite regimental.