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Quinta-feira, 09 de Janeiro de 2025, 09h:51 - A | A

ROSIMAR DIAS

O grito silencioso: será a saúde mental nosso maior desafio?

Este Janeiro Branco não é apenas um mês no calendário; é um apelo coletivo por renovação, um lembrete urgente de que cuidar da mente é cuidar da vida.

ROSIMAR DIAS

No silêncio das mentes sobrecarregadas, um grito abafado ecoa: "Eu não aguento mais". Essa frase, tão comum quanto invisível, reverbera como o som de uma corda prestes a se romper. Em um mundo de rotinas frenéticas e expectativas esmagadoras, a crise de saúde mental emerge como a mais silenciosa das pandemias, um peso invisível que não escolhe classe, idade ou fronteiras. Este Janeiro Branco não é apenas um mês no calendário; é um apelo coletivo por renovação, um lembrete urgente de que cuidar da mente é cuidar da vida.

O Brasil lidera rankings de ansiedade, com mais de 18 milhões de pessoas afetadas, e ocupa o segundo lugar em casos de depressão na América Latina, com cerca de 11,5 milhões de diagnósticos. Mas esses números não contam as histórias de sonhos interrompidos, relações corroídas pelo silêncio e vidas presas a um sofrimento abafado.

Vivemos sob a promessa de um século marcado pela inovação, mas o brilho das telas muitas vezes só acentua as sombras. A tecnologia que deveria conectar nos isola. Redes sociais tornaram-se vitrines de comparações dolorosas, enquanto eventos globais, como a pandemia da COVID-19, intensificaram a exaustão emocional. A ciência é clara: mente e corpo estão profundamente conectados. Transtornos psicológicos elevam riscos de doenças físicas graves, enquanto cuidar da saúde mental melhora a imunidade, o sono e a longevidade. Martin Seligman, pai da Psicologia Positiva, armou: "A felicidade autêntica nasce de uma vida em que mente e corpo se movem em harmonia".

Neste cenário, o movimento Janeiro Branco surge como um convite para reavaliarmos prioridades. Nascido no Brasil, este manifesto nos dessa a romper o estigma e tratar a saúde mental como questão central na sociedade. Em 2023, sua mensagem se fortaleceu ao ser oficializada como lei federal, transformando reflexão em ação.

Mesmo em meio à escuridão, há sinais de luz. O Centro de Valorização da Vida (CVV) ampliou atendimentos, salvando vidas pela escuta empática. O Sistema Único de Saúde (SUS) promoveu quase 14 milhões de atendimentos psicológicos em 2024, demonstrando um esforço crescente para acolher dores invisíveis. Essas iniciativas provam que a crise de saúde mental é mais do que um problema de saúde: é sobre pertencimento, sobre criar espaços onde todos se sintam vistos e ouvidos.

A pergunta que este Janeiro Branco nos faz é urgente: podemos continuar ignorando o que tanto nos pesa? Cuidar da saúde mental não é um luxo, é um ato de coragem. É escolher viver plenamente, em vez de apenas sobreviver ao caos. Se estas palavras ecoaram em você, talvez seja hora de parar, ouvir, cuidar. Porque, no m das contas, não se trata apenas de aliviar um peso, mas de reconstruir o que foi quebrado. E isso, como toda grande transformação, começa dentro de cada um de nós.

(*) ROSIMAR DIAS  é Padre e Doutor em Psicologia.

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