O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu nesta segunda-feira que a Ucrânia poderia ser russa "algum dia", justamente na semana em que está prevista uma reunião de seu vice-presidente, J. D. Vance, com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky. Moscou se pronunciou no mesmo sentido nesta terça-feira, afirmando que uma "parte significativa" da Ucrânia "quer ser Rússia".
— Eles podem chegar a um acordo, podem não chegar a um acordo. Podem ser russos um dia, podem não ser — afirmou Trump em uma entrevista à emissora Fox News, divulgada na segunda-feira, evocando a possibilidade de que a antiga república soviética caia nas mãos de Moscou.
A declaração foi rapidamente repercutida pelo governo russo, que saiu em defesa da manifestação de Trump. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse nesta terça-feira que a situação na Ucrânia "corresponde amplamente às palavras do presidente americano".
— O fato de que uma parte significativa da Ucrânia quer se tornar Rússia, e já o fez, é um fato — disse o porta-voz a repórteres, referindo-se à anexação de quatro regiões ucranianas por Moscou em 2022. — Qualquer fenômeno pode acontecer com 50% de probabilidade — sim ou não.
O presidente americano voltou à Casa Branca prometendo um rápido fim para o conflito entre Rússia e Ucrânia, que se aproxima de seu terceiro aniversário, e criticando a ajuda massiva enviada a Kiev por seu antecessor, Joe Biden — um discurso gera preocupação entre as autoridades ucranianas, que temem ser pressionadas a aceitar uma proposta de paz desfavorável aos seus interesses.
Na entrevista à Fox News, Trump insistiu que os EUA devem recuperar a ajuda prestada a Kiev e sugeriu um intercâmbio pelos recursos naturais do país, especialmente as terras raras.
— Vamos ter todo esse dinheiro lá, e eu digo que quero ele de volta. Eu disse a eles que quero o equivalente, cerca de US$ 500 bilhões, em terras raras — disse Trump. — E, basicamente, eles aceitaram fazer isso, então pelo menos não nos sentimos estúpidos.
Trump também confirmou separadamente, na segunda-feira, o envio de seu emissário especial Keith Kellogg à Ucrânia, encarregado de esboçar uma proposta para interromper o conflito. Segundo uma fonte do gabinete da Presidência em Kiev, a visita ocorrerá em 20 de fevereiro, quatro dias antes do terceiro aniversário do início da invasão russa.
Zelensky exige garantias
Antes disso, na próxima sexta-feira, 14 de fevereiro, o presidente ucraniano se reunirá com o vice-presidente americano em uma conferência de segurança em Munique, na Alemanha. Embora nos últimos meses tenha se mostrado mais aberto a negociar com Moscou, Zelensky insistiu na segunda-feira que qualquer acordo deve garantir uma "paz real e medidas de segurança eficazes" para a Ucrânia.
— Segurança para a população, segurança para nosso Estado, segurança para nossas relações econômicas e, claro, para a sustentabilidade de nossos recursos: não apenas para a Ucrânia, mas para todo o mundo livre — declarou o presidente em um vídeo publicado nas redes sociais. — Tudo isso está sendo decidido agora.
Trump afirma querer encerrar a guerra o mais rápido possível, mas ainda não apresentou um plano para aproximar as posturas divergentes de Moscou e Kiev. Na semana passada, o presidente americano também disse que "provavelmente" se reunirá com seu homólogo ucraniano nos próximos dias, mas descartou uma viagem a Kiev.
Zelensky confirmou que um encontro está sendo planejado, mas que ainda não há uma data definida.
Diante desse cenário, tanto a Ucrânia quanto a Rússia intensificaram seus ataques nos últimos meses para reforçar suas posições em uma eventual negociação de paz. No campo de batalha, são as tropas russas, mais numerosas e melhor armadas, que têm a iniciativa, especialmente na frente oriental, onde capturaram várias localidades.
Na terça-feira, o Ministério da Energia ucraniano anunciou ataques russos contra o setor elétrico e a infraestrutura de gás do país.
"Para minimizar as possíveis consequências para o sistema energético, o operador do sistema de transmissão está aplicando restrições emergenciais no fornecimento de eletricidade", informou o ministério.